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Os riscos na previdência privada continuam os mesmos? | V Seminário Previdência Complementar em Debate

24/1/2024

Com a mediação de Marcelo Neves, consultor sênior da NETInvest, o painel teve com Lucio Capelletto, ex-diretor superintendente da Previc, a primeira apresentação. De início, ele mostra um quadro com a distribuição dos investimentos regularmente feitos hoje e após compara Selic, Dólar e Ibovespa, para, de imediato, concluir que os riscos atuais para a previdência privada apresentam grande volatilidade e não continuam os mesmos como propõe o questionamento do painel.

Capelletto também coloca na balança, de um lado os investimentos como ativos (risco de mercado, de crédito, de liquidez, de ESG e até os climáticos) e, de outro, as obrigações como um passivo (risco operacional, atuarial, longevidade, cibernéticos) que reforçam ainda mais a sua tese pela enorme disposição dos riscos atuais.

Tais comparações permitem recomendar que, para manter o equilíbrio técnico, há a necessidade de se fazer uma eficiente gestão de riscos fundamentada em uma governança robusta e controles internos.

Marcia Fernandes, diretora-presidente da Fundação Promon de Previdência Social, optou por apresentar o tema sob a ótica dos patrocinadores, com base em três eixos, mais dinâmicos e complexos: legislação, evidenciando o peso das novas relações trabalhistas; tecnologia, com o advento das pension techs, que permite aos participantes fazerem suas próprias escolhas e pessoas e participantes, com peso especial em longevidade e mudanças profundas no seio do agrupamento familiar. Em meio a esse último eixo, chamou a atenção para a frustração de expectativa versus realidade que pode afligir os participantes.

Ganhou destaque em sua apresentação o “case da Promon”, a primeira entidade de previdência fechada a ser criada no Brasil e que se tornou benchmarking no mercado brasileiro. Segundo ela, até 2021 a patrocinadora operava um plano CD colocava um percentual significativo do salário dos participantes sem deles exigir qualquer contrapartida. Uma atitude paternalista, que não poderia ter continuidade, mesmo porque não havia reciprocidade dos participantes, que, à época, rondava os 40% do quadro funcional.  

A constatação dessa postura veio após uma pesquisa interna que registrou que os participantes, a despeito de julgarem o benefício como muito relevante, não tinham intenção de aportar não mais que 2 a 3 % de seu salário no plano de previdência.

A patrocinadora definiu por tomar uma decisão que levou a uma drástica mudança. Alterou o regulamento do plano, manteve o seu investimento e pediu o protagonismo dos participantes. Hoje, o plano conta com a adesão de 90% do quadro de colaboradores e o aporte de 7% de cada participante.

Rosangela Iuki, sócia-atuária da Mirador, fez uma apresentação extremamente didática, iniciando com a definição oficial do conceito de Previdência Complementar com ênfase no “acúmulo de reservas” e na “qualidade de vida na fase pós-laborativa”.

A partir daí, infere o risco de escassez de recursos vinculadamente à acumulação de reservas e longevidade sem qualidade de vida à qualidade de vida na fase pós-laborativa e aborda os momentos de crises econômicas que, normalmente, acontecem no Brasil a cada seis ou sete anos e que impactam a vida dos participantes e dos patrocinadores. Entre os principais fatores destaca desemprego, endividamento público, inflação, aumento das desigualdades sociais, falência das empresas etc.

No encerramento de sua exposição, Rosangela colocou algumas reflexões sobre os riscos possíveis diante dos cenários apresentados:  O risco de subfinanciamento das rendas é real e crescente; uma aposentadoria subfinanciada e uma força de trabalho envelhecida representam um risco muito real para as empresas e os investidores, bem como para o desenvolvimento de uma nação; e, finalmente, os riscos de déficit e de premissas podem ser muito difíceis de avaliar em planos individuais, portanto o acompanhamento pessoal do nível de renda futura é essencial para o atingimento dos objetivos e construção de uma renda adequada para manutenção do padrão de vida desejado.

E deixa dois recados importantes para mitigar os riscos: Destacar a importância da acumulação de reservas financeiras, para proteção aos riscos futuros e ter acesso a ferramentas e educação financeira é essencial para se preparar adequadamente.

Maurício Martinelli, diretor de investimentos da Mercer Brasil, fez a última apresentação desse painel. Também procurou ser bastante didático, lançando mão, inicialmente, de conceitos bem explorados sobre os fatores influenciadores em um plano de previdência como tempo e disciplina para subsidiar a visão sobre riscos.

Na sequência, apresentou os principais desafios do cenário atual – redução gradual do benefício oficial, maior longevidade, expectativa de queda de juros em 2024 e a possível necessidade de se assumir mais riscos no portfólio considerando que um perfil extremamente conservador poderá não trazer o retorno esperado pelo participante. Daí, a necessidade de diversificar aplicações, a par de arriscar mais.

Nesse contexto, mostrou aspectos relacionados à importância de diversificar os ativos no portfólio, aumentando a possibilidade de retorno. Também apresentou desafios na acumulação com base na reposição salarial total como as novas regras da previdência oficial e uma queda esperada de juros podem representar uma redução de aproximadamente 15% no benefício projetado.

Finalmente, fez menção aos planos BD, que têm foco na solvência e a importância de se fazer análise de sensibilidade na realização de estudos de determinação de portifólio, e aos planos CD, que mantém foco na acumulação e retorno.

Assista à gravação desse painel

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