
Em meio às discussões sobre direitos dos participantes, rentabilidade dos investimentos e sustentabilidade dos planos, há uma figura que raramente ocupa o centro do debate — mas que, paradoxalmente, é a base de tudo: o patrocinador.
Nas Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC), o patrocinador é quem torna possível a existência dos planos de benefícios. Sem ele, não há plano, não há contribuição, não há previdência. E, ainda assim, o sistema frequentemente esquece — ou escolhe ignorar — sua importância.
A natureza facultativa da previdência complementar é um dos seus pilares. Participantes escolhem aderir. Patrocinadores escolhem oferecer. E é justamente essa escolha que revela o valor do patrocinador: ele não é obrigado a estar ali. Ele está porque acredita. Porque investe. Porque assume riscos e responsabilidades que vão muito além do aporte financeiro.
No setor privado, o patrocinador costuma ser mais do que um financiador. Ele é um agente ativo, envolvido na governança, na definição de políticas e na avaliação de resultados. Sua atuação é estratégica, alinhada aos objetivos da empresa e ao bem-estar dos colaboradores. Ele participa, questiona, propõe. Ele está presente.
Essa presença ativa é um diferencial. Ela fortalece os planos, traz agilidade às decisões e promove uma cultura de responsabilidade compartilhada. O patrocinador privado entende que previdência complementar não é apenas um benefício — é um investimento em pessoas, em reputação e em futuro.
Já no setor público, o patrocinador enfrenta limitações estruturais. Sua atuação é mais institucional, muitas vezes engessada por normas, burocracias e restrições orçamentárias. Embora igualmente essencial, sua participação tende a ser menos dinâmica, o que pode comprometer a capacidade de adaptação e inovação dos planos.
Essa diferença não deve ser ignorada — mas compreendida. E mais: deve ser enfrentada com propostas que fortaleçam a atuação do patrocinador público, garantindo que ele também possa ser um agente ativo na construção de um sistema mais equilibrado e sustentável.
Com mais de duas décadas como participante e quase 20 anos de atuação no sistema, posso afirmar com convicção: não há previdência complementar forte sem equilíbrio entre os interesses dos participantes e dos patrocinadores. Demonizar o patrocinador é minar a base do sistema. Valorizar apenas um lado é comprometer a sustentabilidade de todos.
É hora de mudar o discurso. De reconhecer que o patrocinador — seja público ou privado — é parte vital da engrenagem. De garantir segurança jurídica, espaço de diálogo e respeito institucional. Porque só assim construiremos um sistema de previdência complementar que seja, de fato, justo, eficiente e duradouro.